Consumir tanta ficção de terror assim me levou a uma inevitável conclusão. Este é o gênero mais difícil de ser feito da forma certa, por uma simples razão: É fácil se enganar e achar que está contando uma boa história de terror, quando na verdade você simplesmente caiu na mesmice e está fazendo um produto de qualidade barata. Vai por mim, uma boa história de terror vai muito além de dar sustos em você.
Há uma crise nos filmes de terror hoje em dia, onde boa parte acredita que é basta combinar muito sangue, coisas nojentas e sustos pra obter o sucesso. Não é o caso, O Iluminado é um dos melhores filmes de terror já feitos por causa da sua atmosfera estranha e da forma enlouquecedora com a qual a história progressa, já The Thing te desafia com criaturas bizarras e um suspense inquebrável. Os jogos vivem um dilema parecido, e apesar de não ser tão grande – porque houve uma pequena renascença nos últimos anos – nós estamos voltando pra estaca zero.
Em 2010, Amnesia: The Dark Descent começou um renascimento dentro dos jogos de terror*. O jogo tinha uma mecânica simples, não era necessário mirar e acertar tiros no inimigo para sobreviver, bastava apenas correr e se esconder. Isso criou uma tendência que foi seguida fielmente por vários outros jogos, incluindo alguns acabaram sendo produtos melhores, como Outlast, e outros que são bem fracos, como o popular Slender.
*A trilogia Penumbra é muito semelhante e veio três anos antes de Amnesia, mas Amnesia foi o primeiro jogo do tipo a realmente se popularizar de uma forma impressionante, especialmente porque foi lançado na época em que o YouTube explodiu com vídeos de jogos.
Mas mesmo Slender trouxe pro gênero de terror uma popularidade nunca antes vista. Poucos jogos tem tantos Let’s Play no YouTube quanto Slender, Amnesia e Outlast. Eles são fáceis de jogar, rodam na maioria dos computadores e dão vídeos engraçados – afinal, quem não gosta de ver alguém tomando susto? Isso deu um novo gás pro gênero e, combinando com a ascensão dos indies, resultou num mundo onde temos mais jogos de terror do que nunca. Se antes só haviam Resident Evil e Silent HIll, hoje a paisagem é bem mais ampla. Isso é ótimo, mas está ficando velho.
Neste vídeo da IGN sobre os jogos de terror de 2014, é possível notar algo preocupante. A grande maioria dos títulos na lista seguem as regras impostas por Amnesia e Penumbra. Eles usam a perspectiva em primeira pessoa e boa parte mal tem combate. Isso está ficando repetitivo, porque é uma fórmula mais ou menos segura, especialmente pra indies que não tem um custo de produção alto. Se rodarem em qualquer PC e derem bons vídeos pro YouTube, eles vão vender. O lado bom, claro, é ver mais e mais desenvolvedores se dando bem graças aos jogos, mas o lado mal é que isso não incentiva inovação.
Não me entenda errado, eu gosto bastante de jogos de terror em primeira pessoa, tanto que o jogo que mais quero jogar este ano é Alien: Isolation, The Vanishing of Ethan Carter parece uma história do H.P. Lovecraft, e estou bem interessado em ver o que a Sony fará com Until Dawn. Mas se não tomarmos cuidado, “primeira pessoa com corre e esconde” vai virar pros jogos o que “sangue e sustos” são pros filmes. Um cliché, uma repetitividade, algo comum. Cair numa zona de conforto destas é perigoso, pensar que isso é uma fórmula infalível pro sucesso é letal.
Felizmente, há esperança. O ‘boom’ dos jogos de terror alavancado por Amnesia e sua turma parece ter renovado o interesse de outras publishers. Eu não estou dizendo que as publishers são a solução, já que muitas não ligam pra criar algo inovador e sim só ganhar dinheiro, mas a presença de mais desenvolvedores fazendo jogos de terror significa mais competição, o que por sua vez significa uma necessidade maior de se diferenciar dos competidores.
Este ano temos o criador de Resident Evil, Shinji Mikami, voltando para o gênero com The Evil Within, e apesar de não parecer o jogo do século, tenho fé que ele vai ser bom, e um bom jogo de terror feito por ele pode ter um impacto monumental. Igualmente importante vai ser o Silent Hills. Eu adorei o P.T., mas espero que o jogo final não seja em primeira pessoa, aliás, duvido que isso seja o caso, não iam colocar um ator famoso no papel principal pra depois não mostrar o rosto dele durante o gameplay. Esses dois títulos, especialmente o novo Silent Hill, podem dar nova vida ao gênero e deixar muita gente interessada.
Um fator ainda mais decisivo seria ver a volta de Resident Evil à suas raízes. Nenhuma franquia de terror é tão conhecida e tão popular quanto RE, e os últimos jogos para console* – Resident Evil 5, Resident Evil: Operation Raccoon City e Resident Evil 6 – foram bem abaixo das outras edições. Depois do desastre que foi Resident Evil 6, eu espero que a Capcom se ligue, faça um reboot na franquia e volte pro que a tornou tão especial.
*Sem contar a edição HD do Resident Evil: Revelations, que saiu originalmente no 3DS. Não joguei, mas ouvi ótimas coisas dele. Se liga, Capcom.
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